Fisiologia

Ciclo

O ciclo do Trypanosoma cruzi no inseto vetor

 

Patrícia Azambuja

Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

E-mail: azambuja@ioc.fiocruz.br

 

Eloi S. Garcia

Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

E-mail: egarcia@fiocruz.br

 

Os triatomíneos pertencentes à ordem Hemíptera, subfamília Triatominae da família Reduviidae com cerca de 130 espécies, têm hábito alimentar hematófago (Figura 1), sendo considerados vetores em potencial do Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas.

 

Figura 1

 

O Trypanosoma cruzi, protozoário flagelado pertencente à ordem Kinetoplastida e à família Trypanosomatidae, infecta em condições naturais mais de 100 espécies de mamíferos de diferentes ordens, como revisto por Devera e colaboradores. O parasito existe na natureza em diferentes populações de hospedeiros vertebrados, tais como seres humanos, animais silvestres e animais domésticos, e os invertebrados, a exemplo dos insetos vetores.  O T. cruzi possui variações morfológicas e funcionais, alternando entre estágios que sofrem divisão binária e as formas não replicativas e infectantes. Como formas replicativas estão incluídos os epimastigotas presentes no tubo digestivo do inseto vetor e os amastigotas observados no interior das células de mamíferos. As formas não replicativas e infectantes, os tripomastigotas metacíclicos, são encontrados nas fezes e urina do inseto vetor e os tripomastigotas circulantes no sangue de mamíferos.

Recentes investigações utilizando análise por isoenzimas, atividade de rRNA promotor, sequência de genes de miniexons e marcadores de microsatélites, demonstraram que o T. cruzi corresponde a 2 subgrupos genéticos divergentes, chamados de linhagens 1 e 2, como descrito por Briones e colaboradores. Existe somente uma pequena diferença no comportamento biológico de populações naturais de T. cruzi pertencentes aos grupos genéticos T. cruzi 1 e T. cruzi 2 isolados de diferentes hospedeiros (humano, reservatórios silvestres e insetos vetores). Eletroforese enzimática e DNA polimórfico amplificado demonstraram que a linhagem 2 pode ser subdividida em 5 tipos, conforme descrito pelo grupo de Tibayrenc.

Durante a fase do ciclo no hospedeiro invertebrado, o T. cruzi se diferencia em epimastigotas e então, no intestino posterior, estes diferenciam-se em tripomastigotas metacíclicos (um processo conhecido como metaciclogênese) os quais, eliminados pelas fezes e urina do inseto vetor, são capazes de infectar o hospedeiro vertebrado, como revisto por Brener e Garcia e colaboradores. O parasito não penetra a pele intacta, somente infectando o hospedeiro via mucosa ou ferimentos na pele. Nos mamíferos, os parasitos se desenvolvem no interior das células sendo liberados no sangue circulante após as células do hospedeiro se romperem, como revisto por Garcia e colaboradores.

Durante a alimentação do inseto, as formas tripomastigotas que se encontram no sangue do hospedeiro vertebrado infectado, são ingeridas pelos insetos. Alguns dias após a alimentação do inseto, os parasitos se transformam em epimastigotas e esferomastigotas. Uma vez estabelecida a infecção, no estômago do inseto vetor as formas epimastigotas do parasito se dividem repetidamente por divisão binária e podem aderir às membranas perimicrovilares das células intestinais. Em grande número, os epimastigotas se ligam à cutícula retal, se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos podendo assim ambas as formas, diferenciadas ou não, serem eliminadas pelas fezes e urina (Figura 2).

 

Figura 2

 

Uma alteração drástica ocorre na transformação de epimastigotas em tripomastigotas no ciclo desenvolvido no inseto vetor, incluindo a capacidade dos tripomastigotas metacíclicos sobreviverem nos mamíferos, em contraste aos epimastigotas que são destruídos pelo sistema de complemento, como demonstrado por Fernandez-Presas e colaboradores. Estudos de Ferguson e Previato e colaboradores mostraram que na superfície do T. cruzi na forma epimastigota existem diferenças na composição de carboidratos, proteínas e lipídios, se comparadas com a forma tripomastigota. Estas alterações moleculares protegem o tripomastigota do sistema de complemento do hospedeiro vertebrado.

A susceptibilidade a infecção natural de uma espécie de vetor por uma determinada cepa do T. cruzi é variável. Também deve ser considerado o aspecto da adaptação da cepa do parasito a uma determinada espécie do inseto vetor para o sucesso do seu completo desenvolvimento, como mostrado por Garcia e Dvorak. O grau de infectividade das cepas de T. cruzi no inseto e nos hospedeiros mamíferos pode diminuir após inúmeras passagens dos parasitos em meio de cultura, descrito por Chiari. Perlowagora-Aszumlewics e colaboradores mostraram que uma espécie de inseto-vetor tende a ser mais susceptível a uma cepa do parasito dentro de uma mesma área de distribuição geográfica nas diferentes regiões. É interessante observar que a infecção com T. cruzi não altera significativamente o comportamento do vetor, como revisto por Schaub.

Não somente a cinética da multiplicação de epimastigotas numa determinada espécie de triatomíneo, como também o processo da metaciclogênese, é dependente da cepa e/ou clone dos parasitos infectantes, como demonstrado por Garcia e Azambuja e Kollien e Schaub. Como proposto pelo grupo de Tibayrenc e Lima e colaboradores, que por ser o T. cruzi uma espécie heterogênea, deveria ser considerado o efeito da interação e cooperação entre diferentes subpopulações de parasitos no ambiente intestinal do inseto vetor.

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Dinâmica interação

Dinâmica da interação do Trypanosoma cruzi com o inseto vetor

 

Patrícia Azambuja

Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

E-mail: azambuja@ioc.fiocruz.br

 

Eloi S. Garcia

Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

E-mail: egarcia@fiocruz.br

 

O estabelecimento da infecção pelo T. cruzi no tubo digestivo do inseto-vetor é dependente e regulado por fatores fisiológicos e bioquímicos do inseto-vetor, como proposto por Carlos Chagas e Emanuel Dias. Bio-ensaios foram utilizados para avaliação de uma variedade de fatores que influenciam o desenvolvimento do parasito, tais como das alterações ultraestruturais das células epiteliais do intestino médio, dos fatores líticos, das enzimas digestivas e da fisiologia hormonal do desenvolvimento do inseto pelo grupo de Garcia e Azambuja.  Após a ingestão do sangue infectado, na região anterior e posterior do intestino médio (estômago e intestino, respectivamente), os parasitos se confrontam com componentes existentes nestes compartimentos digestivos. Estes incluem os fatores hemolíticos, peptídeos derivados da cadeia α D-globina e lectinas, os quais podem modular a dinâmica da multiplicação e diferenciação do T. cruzi no tubo digestivo do inseto vetor, ilustrando a complexidade dos mecanismos envolvidos na interação com o T. cruzi.

Pereira e colaboradores reportaram a presença de lectinas no tubo digestivo e hemolinfa de R. prolixus sugerindo que estas moléculas estejam envolvidas no desenvolvimento do T. cruzi no inseto vetor. Mello e colaboradores demonstraram diferenças no desenvolvimento de três cepas do T. cruzi no intestino de R. prolixus e relacionaram a infectividade destes parasitos com a habilidade do extrato do tubo digestivo aglutinar in vitro os flagelados. Assim, lectinas aglutinaram o clone Dm28c do T. cruzi, o qual apresentava o máximo nível de infectividade, enquanto, ao contrário, a cepa Y do parasito, a qual não era aglutinada, era lisada no tubo digestivo do inseto vetor, como descrito por Azambuja e colaboradores e Mello e colaboradores.

Frainderaich e colaboradores demonstraram que a metaciclogênese de T, cruzi era induzida in vitro por peptídeos derivados a α-D-globina.  Garcia e colaboradores estudaram, em R. prolixus in vivo, os efeitos da hemoglobina e peptídios sintéticos correspondentes as regiões fragmentadas da sequência da alfa-D-globina sobre o desenvolvimento e transformação de epimastigotas de T. cruzi em tripomastigotas metacíclicos. Esta diferenciação no tubo digestivo de inseto ocorria quando hemoglobina e os peptídios sintéticos correspondentes aos resíduos 30-49 e 35-73 da alfa-D-globina eram adicionados na dieta de plasma. Entretanto, o peptídio sintético 41-73 não induziu a diferenciação de epimastigotas para tripomastigotas metacíclicos, mesmo na presença dos dois primeiros peptídios. A hemoglobina demonstrou ser um componente importante do sangue para o desenvolvimento dos parasitos. Estes resultados identificaram um mecanismo molecular incomum, o qual modula a dinâmica de transformação de epimastigotas para tripomastigotas metacíclicos no tubo digestivo do inseto vetor.

Recentemente, Azambuja e colaboradores isolaram e identificaram no estômago de R. prolixus a Serratia marcescens biótipo A1a (chamada de RPH), produtora do pigmento prodigiosina. Esta bactéria ou a S. marcescens SM365, também produtora do pigmento, ou a variante S. marcescens DB11, não produtora do pigmento prodigiosina, lisaram eritrócitos, mas somente as produtoras de prodigiosina foram capazes de destruir a cepa Y de T. cruzi, O mecanismo de lise do parasito envolve uma adesão rápida da bactéria na membrana do parasito seguido da desintegração do parasito. Aparentemente, receptores que dependem de manose estão envolvidos no mecanismo de lise. Este açúcar protege o parasito da lise causada por S. marcescens, mas não interfere na hemólise causada por esta bactéria. Estes autores sugeriram que o efeito tripanolítico da bactéria é distinto da atividade hemolítica, possuindo esta bactéria fímbria do tipo 1 manose que medeia a aderência e lise dos tripanossomas. Assim, o estudo de bactérias no tubo digestivo do hospedeiro invertebrado pode fornecer novas ferramentas para bloquear o desenvolvimento dos parasitos no inseto vetor.

Em relação às enzimas digestivas, Borges e colaboradores demonstraram que insetos infectados pelo T. cruzi tiveram atividade de catepsina D aumentada. Entretanto, a alimentação de R. prolixus com o inibidor de proteinase SH-dependente não teve efeito sobre a infecção do inseto vetor. Ursic-Bedoya e Lowernberger revelaram que o nível de transcrição de catepsina B não variava quando comparado  inseto vetor infectado e não infectado.

Um dos processos importantes da interação fisiológica do T. cruzi e seu inseto vetor é a aderência do parasito na superfície das células intestinais. Nogueira e colaboradores utilizando-se daa análise em videomicroscópio demonstraram que as formas epimastigotas e tripomastigotas do T. cruzi se movem na direção e sentido da superfície das células epiteliais do epitélio intestinal. Enquanto as formas tripomastigotas não aderem ao epitélio, os epimastigotas aderem ao epitélio do estômago e dos intestino. Aparentemente este processo de reconhecimento envolve moléculas de fosfolipídeos de glicoinositol (GIPLs) que se encontram abundantemente na superfície de epimastigotes, como descrito por Colli e Alves. A inibição de um gene envolvido na síntese de glicoproteínas do T. cruzi resultou na não aderência do flagelo do parasito ao epitélio do intestino e diminuiu a população de T. cruzi no inseto vetor, como descrito por Ribeiro de Jesus e colaboradres.

Garcia e colaboradores mostraram que a interação T. cruzi – inseto vetor podem ser moduladas pelo composto azadiractina (Figura 3), um inibidor de crescimento de insetos, obtidos da planta Azadirachta, que intefere fortemente na regulação neuroendócrina do inseto. Esta droga administrada via oral, antes, durante ou mesmo após a infecção pelo T. cruzi, não somente interfere no desenvolvimento do inseto, mas também no estabelecimento da infecção parasitária no tubo digestivo de diferentes espécies de triatomíneos.

 

Figura 3

 

Garcia e colaboradores mostraram que parasitos na forma epimastigota não aderiram ao epitélio do intestino médio do inseto quando larvas de R. prolixus foram decapitadas ou tratadas com azadiractina. A terapia do inseto com ecdiona e o implante de cabeça normal nos insetos tratados com azadiractina, reverteram o processo de adesão e desenvolvimento do parasito. Os insetos que receberam a droga ou foram decapitados demonstraram uma desorganização nas membranas perimicrovilares das células epiteliais do intestino indicando que a via do hormônio protorácicotrópico-estimulador da síntese de ecdisona está envolvida no processo de desenvolvimento do T. cruzi em seu inseto vetor (Figura 4).

 

Figura 4

 

Assim, as interações altamente especializadas entre T. cruzi – inseto vetor são provavelmente influenciadas pelos efeitos biológicos de compostos naturais, obtidos de plantas, sobre as condições fisiológicas do inseto devido à sua interferência na homeostase hormonal.

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Ecologia 

Ecologia de vetores

 

Liléia Diotaiuti

Grupo Triatomíneos e Epidemiologia da Doença de Chagas, Instituto René Rachou/Fiocruz

E-mail: diotaiuti@minas.fiocruz.br

 

A ocorrência dos triatomíneos na natureza depende da disponibilidade de alimento e de esconderijo, Estes insetos se associam a diferentes fontes de alimentação, preferentemente de sangue quente, como aves e mamíferos, mas também, na dependência do ecótopo, podem se alimentar de animais pecilotérmicos, como anfíbios e répteis (Figura 1).

 

Figura 1

 

Como o Trypanosoma cruzi parasita apenas mamíferos, é necessário diferenciar as fontes de alimentação das fontes de infecção. As fontes de infecção silvestres dos triatomíneos são pequenos mamíferos pertencentes a sete diferentes ordens, ou seja, Marsupialia, Edentata, Chiroptera, Carnivora, Lagomorpha, Rodentia e Primates. Sob o ponto de vista epidemiológico, os marsupiais têm grande importância, pois apresentam altas taxas de infecção, e alta sinantropia, estabelecendo uma ponte entre os ciclos silvestre e domiciliar da infecção. O mesmo se pode dizer em relação aos roedores, pois algumas espécies são também sinantrópicas. No ambiente artificial, cães e gatos são os principais reservatórios do T. cruzi, sendo os cães considerados “sentinelas” em áreas sob controle, podendo indicar a ocorrência de ciclo de transmissão e a necessidade de providências para impedir a expansão do foco. No peridomicílio, as galinhas são as principais fontes de alimentação, mas os barbeiros também se utilizam do sangue de diferentes animais neste ambiente. Pequenos mamíferos, como roedores, gambás ou os cães têm importante papel na manutenção do ciclo de transmissão do T. cruzi no ambiente artificial.

Os triatomíneos podem ser encontrados nos mais diferentes ecótopos, como fendas de pedras, ninhos de aves ou tocas de mamíferos, ocos ou abaixo de cascas secas de troncos de árvores, etc (Figura 2). De acordo com as características do esconderijo, as colônias de triatomíneos podem estar associadas a ecótopos considerados estáveis ou instáveis.

 

Figura 2

 

Nos ecótopos estáveis, a presença das fontes alimentares é mais permanente e as características microclimáticas sofrem menores variações em relação ao ambiente externo, permitindo o desenvolvimento das colônias em maiores densidades. Como exemplo, podemos citar algumas espécies de palmeiras (Figura 3), que apresentam a arquitetura da copa formada pelo imbricamento das folhas conformando uma infinidade de espaços sobrepostos, frequentemente colonizados por triatomíneos, principalmente do gênero Rhodnius. Muitos animais frequentam a copa destas palmeiras, como aves, roedores, morcegos, marsupiais, anfíbios e lagartos, disponibilizando uma variedade de fontes de alimentação para os triatomíneos, e de infecção pelo T. cruzi. Outro exemplo interessante de ecótopo estável é representado pelas cavernas, colonizadas por grandes grupos de morcegos, aos quais se associa a espécie Cavernicola pilosa.

 

Figura 3

 

Nos ecotopos instáveis, a presença do alimento é esporádica, e a temperatura e umidade variam de maneira similar ao meio externo. Assim se caracterizam os ecótopos naturais de T. sordida, representados por cascas de árvores secas, onde as fontes de alimentação para os triatomíneos são mais restritas, dependendo do período de nidificação das espécies. Nestas condições, as colônias de triatomíneos têm bastante restrição para o seu crescimento, e geralmente são constituídas por poucos insetos (Figura 4).

 

Figura 4

 

Existem muitos predadores naturais dos triatomíneos, a começar por outros heterópteras insetívoros, aranhas, aves, ou mesmo mamíferos como roedores, marsupiais e macacos, o que se converte, neste caso, em importante via de infecção para os hospedeiros. Um grupo especial de insetos da família Scelionidae chama a atenção por serem parasitos de ovos. O parasitismo ocorre pelo desenvolvimento dos ovos do parasitóide dentro do ovo do triatomíneo, cujas larvas devoram o embrião do heteróptera (Figura 5). Algumas espécies de fungos (Beauverea bassianaMetarrhizium anisopliae) também podem exercer ação letal sobre os triatomíneos, e são alvo de pesquisas na busca de alternativas naturais de controle.

 

Figura 5

 

Os triatomíneos podem se dispersar passivamente, sendo levados de um lugar para outro. Espécies associadas à madeira no ambiente natural, como T. sordida e T. pseudomaculata, frequentemente são introduzidas no ambiente artificial através da lenha trazida para o uso doméstico. Animais voadores, como pássaros e morcegos, provavelmente são importantes na dispersão de algumas espécies, como T. sordida e C. pilosa. O principal vetor da doença de Chagas nos países do Cone Sul, Triatoma infestans, teve seu principal processo de dispersão as migrações humanas, sendo levado passivamente nas bagagens dos viajantes, alcançando ampla área de ocorrência em curto espaço de tempo.

A dispersão ativa, realizada pelos triatomíneos principalmente através do vôo dos adultos, é de grande importância epidemiológica, pois está relacionada à invasão das casas a partir de exemplares procedentes do ciclo silvestre. Obedecendo a um ritmo natural para cada espécie, existe uma tendência de migração dos adultos para o ambiente artificial, ou seja, a casa e os esconderijos peridomiciliares, o que pode resultar na formação de colônias (presença não apenas de adultos, mas também de formas imaturas) destes insetos próximos ao homem. A casa (Figura 6 e Figura 7) representa um ambiente altamente estável, um “ninho” habitado durante todos os meses do ano, e com microclima estabilizado, pois os homens são muito vulneráveis a variações climáticas e necessitam para si um ambiente bastante controlado, do que se beneficiam os triatomíneos. Também o peridomicílio (Figura 8)  apresenta características de muita estabilidade: uma infinidade de fontes alimentares, como galinhas, cães, gatos, cabras, porcos, roedores e outros mais eventuais; construções como galinheiros, chiqueiros, paióis, montes de telhas, madeira e lenha, etc. Nestas circunstâncias, triatomíneos que na natureza formam pequenas colônias, no ambiente artificial, potenciados pela grande disponibilidade de alimento e esconderijos, crescem e formam enormes colônias, quase numa transgressão à sua própria biologia.

 

Figura 6

 

Figura 7

 

Figura 8

 

A transmissão vetorial da doença de Chagas está relacionada à densidade populacional dos vetores, ou seja, quanto mais barbeiro, mais transmissão. As espécies mais associadas ao homem, como T. infestans nos países do Cone Sul ou R. prolixus em alguns países do norte da América do Sul e América Central, frequentemente constituem colônias intradomiciliares com densidades médias acima de 3,000 insetos, excepcionalmente em torno de 10,000, mantidos pelas fontes alimentares presentes dentro das casas, principalmente o homem, cães, gatos, roedores e outros animais que durmam dentro das casas.

Esta capacidade de adaptação ao ambiente artificial, e especificamente ao intradomicílio, varia, entretanto, entre as espécies, T. infestans e R. prolixus são as espécies que melhor se desenvolvem no intradomicílio, e às quais estão associadas as maiores taxas de prevalência da doença de Chagas. Outras espécies se adaptam muito bem às condições do peridomicílio, mas com menor capacidade de formarem colônias no intradomicílio. As primeiras são consideradas espécies de importância primária na transmissão domiciliar do T. cruzi, e as outras são consideradas espécies secundárias. São considerados triatomíneos de importância primária os que colonizam as casas de maneira permanente e com marcada antropofilia, sendo encontrados debaixo de colchões, nas frestas das paredes, sob o reboco solto, fornos ou fogões desativados, caixotes, atrás de quadros e figuras presos nas paredes, ou em ninhos de aves e lugares onde dormem cães e gatos dentro da casa. Os triatomíneos secundários podem produzir pequenas colônias intradomiciliares de caráter mais transitório, especialmente na ausência dos vetores primários, com graus de antropofilia variados, mas adaptam-se bem aos ecótopos artificias, principalmente os construídos com materiais naturais, como galinheiros (paredes, tetos e ninhos), paióis, postes ou mourões de chiqueiros ou currais, pombais, amontoados de lenhas e pilhas de tijolos ou telhas, etc. A maioria dos triatomíneos, entretanto, apresenta hábitos exclusivamente silvestres, e mesmo que alguns exemplares adultos sejam encontrados dentro das casas, que invadem provavelmente atraídos pela luz, eles não conseguem se alimentar do sangue disponível neste ambiente. É muito provável que a capacidade de se alimentar do sangue de diferentes hospedeiros, que não sejam aqueles aos quais os triatomíneos se associam no ambiente silvestre, seja um fator fundamental para sua adaptação ao ambiente artificial, qualificando espécies ubiquistas (que se adaptam a diferentes ambientes, inclusive ao intradomicílio, o que lhe confere maior importância na epidemiologia da doença de Chagas) e espécies especialistas (que vivem em ambientes restritos, com menor capacidade de se adaptarem a novas oportunidades).

A utilização de galinheiros experimentais, instalados em diferentes situações em relação ao ambiente natural ou ao artificial, permitiu o reconhecimento de muitas informações sobre o desenvolvimento, variação e permanência de triatomíneos em ecótopos artificiais, esclarecendo aspectos relacionados à capacidade potencial de domiciliação das espécies em relação às alterações ambientais.

No Brasil, as espécies consideradas de importância primária são o T. infestans (já eliminado), P. megistus e T. brasiliensis. As principais espécies secundárias são o T. sordida, T. pseudomaculata, T. rubrovaria, R. neglectus, R. nasutus, P. lutzi, P. geniculatus, entre outras.

Algumas espécies podem apresentar diferentes comportamentos em diferentes regiões. É o caso do Panstrongylus megistus, com grande capacidade de domiciliação em Minas Gerais, Norte de São Paulo, e alguns estados do Nordeste, sendo tipicamente silvestre nos estados do sul do país.

A caracterização de populações de triatomíneos tem utilizado diferentes ferramentas, entre elas a morfologia, morfometria, o padrão de eletroforese de isoenzimas, morfologia da genitália, citogenética e inúmeros métodos moleculares (RAPD, microsatélites, ITS, etc,). Estes marcadores facilitam os estudos sobre a dinâmica de populações, que determina o grau de isolamento entre populações, ou o fluxo gênico entre as mesmas. O modelo de dispersão do T. infestans está bastante definido a partir da utilização de algumas destas técnicas. Comparações entre populações deste triatomíneo obtidas no ambiente silvestre da Bolívia, no intra e peridomicílios do Uruguai, Argentina e do intradomicílio do Brasil, comprovam a origem desta espécie nos vales interandinos de Cochabamba, onde o triatomíneo apresenta maior variabilidade genética, que vai sendo simplificada ao longo de sua área de ocorrência nos outros países, o que também comprova a dispersão passiva da espécie. Surpreendentemente T. infestans do Brasil tem menor quantidade de DNA autossômico, se comparado a populações bolivianas. Não se conhece exatamente o significado desta perda de material genético, mas provavelmente esse fato esteja relacionado à maior facilidade de eliminação da espécie no Brasil pela atividade de borrifação das casas com inseticidas, ou também ao aparecimento de populações resistentes a piretróides na Bolívia, Na Argentina e Bolívia, as populações peridomiciliares de T. infestans são um sério problema para a proposta de eliminação da espécie dos países do Cone Sul. Nos últimos anos foram localizadas populações residuais de T. infestans na Bahia e no Rio Grande do Sul. Um estudo genético (microssatélites) demonstrou que essas populações são muito diferentes entre si, ou seja, não há fluxo gênico entre elas. O estudo incluiu ainda uma população reinfestante do estado de São Paulo da década de 90. A análise mostrou maior variabilidade intrapopulacional somente para a população da Bahia, sugerindo (a) a existência de troca genética, ou que (b) essa infestação apresenta grande densidade de insetos. Essa informação é muito importante por que orienta as ações de controle principalmente para a busca da extensão deste foco ou da existência de outros focos de infestação na região. Além disso, os testes de suscetibilidade a inseticida piretróide demonstrou que todas as populações eram suscetíveis ao inseticida, sendo portanto, a persistência da infestação causada por falha operacional.

 

A alta variabilidade genética do P. megistus foi demonstrada, mas sem nenhuma correlação com sua importância epidemiológica. Foi encontrada, entretanto, uma clara sobreposição entre padrões genéticos e as áreas correspondentes aos domínios paisagísticos da caatinga, cerrado e da Mata Atlântica, cujas similaridades/diferenças podem ser explicadas biogeograficamente, através dos paleo-processos de expansão e retração das áreas de maior aridez/umidade, que permitiram a dispersão do P. megistus, estando sempre associado a regiões mais úmidas. De grande interesse epidemiológico, essa espécie tem ciclo evolutivo mais longo, com formação de apenas uma geração por ano, mas alta capacidade de colonização do intradomicilio: quando coloniza, é predominantemente encontrado nos quartos e nas camas. É também um triatomíneo de importância histórica, pois foi examinando exemplares de P. megistus no interior de Minas Gerais que Carlos Chagas descobriu e descreveu a espécie Trypanosoma cruzi.

Triatoma brasiliensis encontra-se extremamente disperso em todo o Nordeste brasileiro, associado especialmente às formações rochosas da caatinga, muitas vezes localizadas muito próximas às casas. Desde o início do Programa de Controle da Doença de Chagas na região, as populações intradomiciliares foram muito reduzidas. Entretanto, na ausência de inseticida, as populações presentes no ambiente artificial são rapidamente reconstituídas, devido a grande proximidade e extensão dos seus mananciais silvestres. Interessante que, mesmo havendo fluxo gênico entre as populações silvestres e o ambiente artificial, ainda assim as populações podem ser bem diferenciadas geneticamente, o que demonstra que as mesmas são fundadas a partir de poucos exemplares.

O Brasil recebeu da OPAS em 2006 a certificação de eliminação do T. infestans do seu território. Esta foi uma árdua tarefa, iniciada no final da década de 70, e que deve ser muito comemorada, pois como mencionado anteriormente, esta espécie sempre esteve associada ao panorama mais dramático da doença de Chagas. Entretanto, existem outras espécies de triatomíneos que podem assumir importante papel epidemiológico, alguns já muito bem descritos, como no caso do P. megistus e do T. brasiliensis; outros ainda pouco conhecidos, mas que em determinadas situações têm sido capazes de colonizar o intradomicílio; outros ainda mais desconhecidos, mas que chamam a atenção pela frequência com que têm sido encontrados. Ao que tudo indica, espécies amazônicas são capazes de transmitir a doença de Chagas ao homem sem que haja colonização das casas, em processo que precisa ser melhor compreendido. A perspectiva de populações de uma mesma espécie com comportamentos e importância epidemiológica diferentes abre uma importante frente de pesquisa e serviço. O controle definitivo da doença de Chagas depende da boa compreensão da ecologia dos triatomíneos.

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Comportamento

O comportamento  os vetores da doença de Chagas

 

Marcelo Lorenzo 

marcelo@minas.fiocruz.br

 

Alessandra Guarneri 

guarneri@minas.fiocruz.br 

 

Grupo de Comportamento de Vetores e Interação com Patógenos

 

Há quase 100 anos Carlos Chagas apresentava ao mundo a sua genial descoberta sobre o ciclo do Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas, e a sua transmissão pelos triatomíneos, insetos hematófagos popularmente conhecidos como barbeiros. Hoje, e  apesar de muitos estudos terem sido realizados desde tal descoberta, ainda restam importantes aspectos desconhecidos sobre o comportamento dos insetos vetores deste parasito que afeta a saúde de milhões de pessoas no continente americano.

Comportamento pode ser definido como movimento de partes do corpo ou do indivíduo como um todo, ou ainda, de grupos de indivíduos, e as bases fisiológicas desse movimento. Os triatomíneos, como todos os animais com capacidade de se movimentar, possuem um repertório comportamental variado, fundamentalmente relacionado com o encontro de alimento, abrigos e parceiros sexuais. Diversos trabalhos publicados ao longo dos últimos 110 anos têm analisado aspectos do comportamento desses insetos. A maioria desses trabalhos foi focada no estudo de Triatoma infestans e Rhodnius prolixus, os dois principais transmissores do T. cruzi. Entretanto, para o restante das mais de 130 espécies de triatomíneos que também podem transmitir a doença, muito pouco tem sido estudado.

A procura de alimento é uma parte central do comportamento desses animais porque esse recurso é fundamental para sua sobrevivência e reprodução. Os triatomíneos são insetos hematófagos, isto é, alimentam-se fundamentalmente de sangue. Estes insetos procuram seu alimento preferencialmente de animais de sangue quente, como mamíferos e aves, mas eventualmente (ou dependendo da espécie, habitualmente) podem se alimentar de sangue de répteis e anfíbios e ainda, de hemolinfa de insetos (fluido presente em invertebrados com funções semelhantes às do sangue). Os estádios imaturos precisam de sangue, fonte de proteínas e demais nutrientes, para se desenvolverem. Além disso, as fêmeas também utilizam o sangue para produzir seus ovos; nos machos, o sangue é fundamental para a produção de espermatozoides. Para encontrar suas fontes de sangue, os denominados hospedeiros, os triatomíneos procuram “pistas” tais como o calor, o CO2, os odores e a umidade que os corpos desses animais emitem no ambiente. Alguns destes sinais, como por exemplo, os odores, podem atraí-los a vários metros de distância. Outros, tais como o calor, somente serão percebidos se os triatomíneos estiverem próximos do hospedeiro. É possível que os adultos, que possuem asas e são capazes de voar, sejam capazes de se orientar a distâncias bem maiores mediante o uso de odores do hospedeiro transportados por correntes de ar.

Uma vez em contato com os hospedeiros, os insetos precisam picá-los. Isto é, precisam encontrar um vaso sanguíneo sob a pele do hospedeiro e entrar com o extremo das suas peças bucais dentro do vaso para sugar o sangue. Para detectar as pequenas variações de temperatura presentes nas regiões da pele que se encontram sobre os vasos sanguíneos, os triatomíneos usam suas antenas (que apresentam receptores de calor na superfície). Uma vez detectado o vaso por ser mais quente que os tecidos que o rodeiam, esses insetos estendem sua probóscide e perfuram a pele do hospedeiro, produzindo uma pequena lesão. Caso tal ação fosse percebida pelo hospedeiro antes do início da alimentação, a morte do inseto seria provável. De maneira adaptativa, os insetos injetam saliva, que contém substâncias anestésicas e vasodilatadoras, enquanto picam. Outras das substâncias injetadas da saliva inibem a coagulação sanguínea. Assim, a ingestão do sangue é rápida para o inseto e indolor para o hospedeiro. Os triatomíneos sugam grandes volumes de sangue equivalentes a até 10 vezes o seu próprio peso corporal. E isso tudo, em menos de 30 minutos!

Quando os triatomíneos chegam ao estádio adulto, outro processo se torna prioritário além da alimentação: machos e fêmeas adultos procuram se acasalar. Isto é fundamental para deixar descendência, objetivo único da reprodução sexual. O comportamento sexual dos machos e fêmeas de triatomíneos difere significativamente. Os machos mostram um comportamento ativo através do qual tentam copular montando outros insetos da espécie que passam na sua frente. Enquanto isso, as fêmeas que não demonstram comportamentos específicos de procura, são capazes de aceitar ou rejeitar as tentativas de cópula dos machos que em muitos casos poderão ir embora sem conseguir o seu objetivo. Mas por que o macho pode ser rejeitado? Ainda não se sabe ao certo, mas é provável que as fêmeas avaliem informações relacionadas com a qualidade dos machos e, portanto, possam estimar a qualidade dos descendentes que o casal irá produzir. Estas interações são mediadas por odores chamados feromônios sexuais, produzidos pelos insetos para facilitar o encontro e reconhecimento de parceiros da mesma espécie.

Quando se alimentam de mamíferos infectados, eventualmente os triatomíneos podem ingerir o T. cruzi, que se desenvolve no intestino desses insetos e é eliminado junto com as suas fezes. A transmissão do parasito para novos hospedeiros mamíferos pode ocorrer quando o inseto defeca sobre a pele de um hospedeiro, durante ou imediatamente após a alimentação, ou quando o inseto é ingerido proposital ou acidentalmente. Neste caso, o mamífero poderá se infectar e o parasito iniciar uma nova fase do seu ciclo. A doença de Chagas poderá se desenvolver quando este hospedeiro for um ser humano. O parasito também pode causar efeitos negativos aos triatomíneos, principalmente se estes ficarem em jejum prolongado. Além disso, a infecção pelo T. cruzi pode alterar o comportamento do inseto. Um trabalho recente mostrou que indivíduos infectados diminuem sua atividade locomotora durante as primeiras horas da noite, período em que esses insetos costumam sair do abrigo à procura de hospedeiros.

E como ocorre o encontro dos triatomíneos com os humanos? Em algumas situações, o encontro é acidental, uma vez que a maioria das espécies conhecidas vive em ambientes silvestres. Mas na maior parte dos casos trata-se de uma situação característica que se repete em diversos países da América Latina, desde o México até a Argentina. Algumas poucas espécies de triatomíneos têm a capacidade de entrar nas habitações humanas e se desenvolver nestes ambientes. Isso acontece quase exclusivamente em regiões rurais onde há casas de taipa de manutenção precária. Nestas casas, esses insetos noturnos encontram abundantes esconderijos para se refugiar durante as horas do dia. Aquelas espécies mais ecléticas, isto é, que ingerem sangue de diversos tipos de hospedeiros, parecem ter uma maior facilidade para se desenvolver nos ambientes humanos. Nestes locais, é possível encontrar diversas fontes de alimentação, dentre elas, o ser humano, cachorros, gatos, galinhas e porcos. Essa variedade de hospedeiros e esconderijos oferece condições ideais para esses insetos. Mas a alimentação abundante não é suficiente para os triatomíneos se estabelecerem em um local. A maior parte das espécies não consegue se desenvolver dentro ou próximo das habitações humanas por diversos motivos. Um aspecto importante parece ser o comportamento chamado de fototaxia negativa. Em outras palavras isso significa que os triatomíneos evitam a luz e esta característica teria um papel importante no estabelecimento dos insetos dentro das casas humanas. Os principais vetores da doença de Chagas evitam intensamente sair dos seus esconderijos nas horas de luz. Esses esconderijos lhes oferecem proteção e um microclima adequado, já que os triatomíneos têm preferências muito definidas por locais com temperatura e umidade relativa amenas e pouco variáveis. Cada espécie aparentemente tem a sua. Então, somente quando a escuridão reina no local, os triatomíneos saem dos abrigos e procuram seus hospedeiros para se alimentarem. E seus hospedeiros, nas condições normais de muitas casas de taipa de diversas regiões rurais da América Latina, não podem vê-los por falta de luz. De fato, das frestas da taipa poderão sair inúmeros triatomíneos, quando se trata das espécies que colonizam eficientemente o ambiente humano. Há muito tempo, os ecólogos especialistas do estudo destas interações indicaram que somente dessa forma é possível acontecer o grande número de casos de doença de Chagas que conhecemos na América Latina. Somente através do convívio permanente com grandes números de triatomíneos é que a transmissão do T. cruzi pelas fezes dos insetos se torna frequente e pode ter um importante impacto epidemiológico. A solução para evitar a transmissão seria eliminar estes insetos dos ambientes humanos. Ou melhor, garantir que essas condições de vida precárias não existam nos ambientes humanos.

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Transcriptoma

Projeto transcriptoma

Pedro Lagerblad Oliveira

Laboratório de Bioquímica de Artrópodes Hematófagos, Instituto de Bioquímica Médica, UFRJ

Email: pedro@bioqmed.ufrj.br

Em construção

 

 

 

Controle vetorial

O controle de vetores da doença de Chagas

 

Alfredo Martins de Oliveira Filho

Laboratório de Biologia, Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais, Universidade Federal do Rio de Janeiro

E-mail: alfredomof@uol.com.br

 

Cerca de um século após sua descoberta a Doença de Chagas ainda representa uma das mais importantes enfermidades parasitárias que afetam o homem na América Latina. A despeito dos recursos gastos em pesquisa e controle, a presença de triatomíneos vetores em casas da maioria das áreas endêmicas ainda pode ser observada e o risco de transmissão desta tripanossomíase dentro da população humana permanece. A luta contra algumas das espécies vetoras mais importantes, como o Triatoma infestans, tem sido incansável, o que praticamente levou à sua erradicação em grandes áreas dos países do Cone Sul. Entretanto, na maioria dos casos, espécies de vetores anteriormente considerados secundários, ocuparam o seu lugar mantendo a população sob risco.

Atualmente não existe vacina nem a perspectiva de um processo de imunização em larga escala num futuro próximo. Também, quanto ao tratamento, não existem drogas curativas. As mesmas drogas estão em uso há mais de 30 anos, sendo sua prescrição limitada pois somente alcançam a cura nos casos agudos e ainda assim produzem vários efeitos colaterais indesejáveis. Deste modo, o controle de vetores e das transfusões de sangue constituem-se ainda as ferramentas mais importantes para evitar a transmissão e a disseminação da Doença de Chagas para novas áreas.

Muitos tipos de agentes controladores de insetos foram investigados, mas os resultados nem sempre deram uma indicação clara de que eles poderiam ser utilizados nas campanhas de controle. Podem ser mencionados aqui os análogos do hormônio juvenil, a maioria deles sintetizados no Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NPPN-UFRJ), que causam graves alterações no ciclo de vida induzindo o aparecimento de adultóides juvenilizados estéreis, como descrito por Pinchin e colaboradores, Oliveira Filho e colaboradores e Jurberg e colaboradores, os precocenos que têm efeito antagônico ao do hormônio juvenil, induzindo o aparecimento de adultóides precoces também estéreis e os inibidores de quitina que afetam a formação do exoesqueleto não permitindo mudas normais entre os estádios de desenvolvimento do inseto. O principal efeito de controle encontrado é a esterilização dos adultóides mas isto não previne a transmissão do T. cruzi pelos insetos da geração que recebeu o tratamento. Uma vantagem é a de que eles são extremamente seguros para mamíferos. As desvantagens são representadas pelo fato de agirem somente em partes do ciclo de vida, serem compostos geralmente instáveis quimicamente e de ação lenta. Outra característica, a especificidade do alvo, pode se tornar uma desvantagem uma vez que há interesse limitado em produzir um composto com um mercado extremamente restrito.

Controle biológico através do uso de Microhymenoptera, insetos que parasitom ovos de triatomíneos, tais como Telenomus fariai, descrito por Barret, já provaram ser ineficientes em condições de campo. Patógenos de insetos, como Metarrhizium sofrem grandes limitações no seu uso devido às condições ambientais necessárias à sobrevivência e propagação deste fungo. O uso de armadilhas com atrativos (ferormônios) ou sem eles (apenas esconderijos para ninfas e adultos) também já se mostrou ineficaz para controle, sendo de utilidade apenas para o monitoramento de infestações quando são utilizados também vestígios como exúvias, ovos ou fezes destes insetos. Controle genético, tal como se utiliza para certas pragas através da liberação de machos estéreis, não é aceitável em se tratando de um vetor de uma doença de difícil cura.

Construção ou renovação de moradias, tais como revestimento de paredes e substituição de tetos de palha por telhas são, até certo ponto, eficazes, porém se não houver simultaneamente uma melhoria das condições sócio-econômicas da população, associada à educação para a saúde, estas medidas não terão resultado duradouro. Isto acontece porque os moradores logo começam a adicionar novos cômodos ou abrigos de animais, construídos de maneira precária, resultando em frestas nas paredes e tetos que logo são colonizadas pelos vetores presentes nas redondezas. O acúmulo de caixas, de sacos de mantimentos e de outros objetos dentro de casa também cria abrigo para manter grandes populações do vetor e a transmissão prossegue. O melhoramento das vivendas para ser eficaz e persistente deve ser preferencialmente feito pelos próprios moradores, através da melhoria das condições de vida. Educação para a saúde também deve surgir como resultado do desejo de participação de uma comunidade em esquemas de vigilância buscando evitar o ressurgimento das infestações. No momento as áreas infestadas são geralmente muito pobres e tudo indica que estas modificações vão levar ainda bastante tempo.

Considerando o que foi apresentado é fácil perceber que a única ferramenta de uso prático que as autoridades de saúde têm à disposição para reduzir a transmissão nas áreas afetadas é o uso de inseticidas. Eles fornecem uma rápida resposta na redução da população de barbeiros e consequentemente na redução da transmissão e o método é razoavelmente barato e de fácil execução quando comparado aos demais mencionados.

A humanidade cresce a cada dia mais e mais dependente de produtos químicos sintéticos para a sua sobrevivência. Neste contexto os inseticidas ocupam um lugar proeminente na proteção da saúde humana, diretamente pela eliminação de vetores de doenças ou indiretamente como consequência do controle de pragas que atacam plantas, animais e seus produtos. Este assunto é frequentemente tratado emocionalmente como resultado dos vários acidentes que ocorreram em várias partes do mundo, levando muitas vezes a mudanças irreversíveis no meio ambiente. A pressão feita por ecologistas contra o uso indevido destes e de outros produtos químicos perigosos resultou na revisão da legislação em muitos países, na supressão da produção de vários produtos e também na procura por moléculas mais seguras e ativas, assim como formulações mais eficientes e específicas para determinados usos. Estudos biológicos para avaliação destes produtos também foram promovidos buscando-se doses mais baixas para atingir o controle e melhores esquemas de aplicação, com baixo custo, considerando a redução da contaminação ambiental.

Alguns laboratórios ligados a universidades tais como a UFRJ ou instituições de pesquisa como a Fiocruz estão envolvidas em pesquisa e desenvolvimento de meios de controlar os vetores da Doença de Chagas no Brasil e na América Latina. O BHC (hexacloro-ciclo-hexano) era o inseticida de escolha para o controle de triatomíneos nas campanhas nacionais no Brasil e também em vários outros países. Apesar de eficiente, este produto apresentava uma série de inconvenientes por ser um organoclorado quimicamente muito estável, que se acumulava nos tecidos vivos, além de ser biomagnificado, isto é, mais se acumulava quanto mais alto o nível na cadeia alimentar. Foram realizados ensaios de laboratório e campo por Pinchin e colaboradores, Mariconi e colaboradores e Oliveira Filho buscando inseticidas, formulações e técnicas de aplicação alternativas para controlar as principais espécies vetoras no Brasil, tendo testado organofosforados como o clorpitifós etila e metila, o malation, o fenitrotion, o pirimifós metila e o clorfoxim. Também foram testados os carbamatos propoxur e bendiocarb e os piretróides sintéticos deltametrina, permetrina, bifentrina, fenpropatrina, esfenvalerato, cifenotrina, praletrina, pinamina, neopinamina, alfacipermetrina, ciflutrina e lambdacialotrina. Como resultado destes ensaios os piretróides foram os escolhidos para uso nas campanhas realizadas até hoje, seguindo as recomendações de doses, formulações e necessidades de reaplicação de acordo ao efeito residual observado destes produtos para T. infestans, T. sordida, T. brasiliensis, T. pseudomaculata, Panstrongylus megistus and Rhodnius nasutus. Também contribuíram para esses resultados, vários trabalhos de técnicas de captura e avaliação entomológica, descritos por Pinchin e colaboradores, Oliveira Filho, Briceño-Leon e colaboradores, além de ensaios de campo de larga escala abordando o que ocorria no interior das casas e também no peridomicílio e sobre a ação desalojante dos inseticidas, como descrito por Pinchin e colaboradores e Oliveira Filho ecolaboradores. As consequências da aplicação de inseticidas sobre o meio ambiente próximo e também sobre o planeta, também foram estudadas por Oliveira Filho.

A análise do método de controle de vetores usando inseticidas leva à consideração da recuperação da população dos barbeiros algum tempo depois da aplicação. Estes insetos são descendentes dos sobreviventes da aplicação ou são eles resultado da imigração de locais não tratados?  Se a re-infestação é devida aos sobreviventes, serão necessárias reaplicações mais frequentes ou produtos com maior poder residual, enquanto que, se o problema é causado pelos imigrantes, então recomenda-se uma maior cobertura geográfica para o tratamento, como proposto por Schofield. Entretanto, se o tratamento é feito com um produto/formulação com suficiente efeito residual, tanto a sobrevivência como a imigração serão evitadas. No primeiro caso os sobreviventes serão eliminados quando saírem de seus esconderijos, ou emergirem dos ovos já depositados, procurando por alimento e, no segundo, a re-colonização da casa ou anexo não é esperada durante o período de atividade do inseticida. O problema maior era encontrar inseticidas com tal persistência em superfícies porosas e alcalinas, geralmente de barro, e que, ainda assim, fossem seguras para aplicação intra-domiciliar.

Estudos realizados por Castleton e colaboradores, Pinchin e colaboradores e Oliveira Filho buscando formulações de lenta liberação que pudessem evitar reaplicações constantes, através do aumento da persistência resultaram na invenção de uma formulação baseada em acetato de polivinila e co-polímeros, cuja tecnologia foi transferida para uma indústria brasileira e teve sua expressiva produção utilizada no nordeste do Brasil para controlar T. brasiliensis e T. pseudomaculata e na Argentina, Chile, Paraguai, Honduras e Nicarágua para controlar outras espécies, obtendo bons níveis de controle.

Ensaios de laboratório e campo sobre a suscetibilidade de várias espécies de triatomíneos a organoclorados, organofosfatos, carbamatos e piretróides mostraram diferenças marcantes entre as espécies. Como os piretróides representam os produtos mais usados nas campanhas de controle, foram realizados ensaios biológicos para determinar a atividade intrínseca de alguns dos principais compostos usados contra cinco das principais espécies vetoras. Na comparação dos inseticidas a lambdacialotrina mostrou-se mais eficiente que os outros três piretróides, considerando-se as doses letais (DL) para 50 e 99% da população testada, Três dos quatro produtos testados mostraram pouco efeito sobre P. megistus e, por esses parâmetros, não deveriam ser indicados para o controle de indivíduos desta espécie (Tabela 1).

 

Tabela 1. Doses letais 50 e 99 para cinco espécies de triatomíneos de quatro piretóides grau técnico aplicados topicamente, diluídos em solução de acetona, Valores expressos em µg i,a,/ninfa de 5º estádio, Peso médio das ninfas: T. infestans 143mg, T. brasiliensis 118mg, T. sordida 56mg, P. megistus 141mg e R. prolixus 73mg (Oliveira Filho,1994).

 

Provavelmente estas diferenças de performance dos produtos técnicos (não formulados) não podem ser transferidas diretamente para as situações de campo onde produtos formulados interagem longamente com os insetos. No entanto, estas diferenças intrínsecas de toxicidade para estes insetos certamente resultarão na recomendação de doses diferentes para uso no campo.

A eliminação da transmissão vetorial da Doença de Chagas foi assumida como prioridade pela maioria dos governos de países da América Latina. A Iniciativa do Cone Sul da OMS/TDR, envolvendo Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, onde existem cerca de 11 milhões de pessoas infectadas e cerca de 50 milhões de pessoas expostas ao risco de adquirir a doença, propôs a erradicação do T. infestans do seu território (exceto pela Bolívia onde esta espécie é também encontrada em ambientes silvestres e sua erradicação não é esperada). Esse compromisso já levou a ações que produziram redução significante na incidência desta doença de acordo com a OMS, como descrito por Moncayo.

Recentemente dois outros blocos de países interessados no controle da transmissão foram constituídos. A Iniciativa dos Países Andinos, envolvendo Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, onde são encontrados cerca de 6 milhões de infectados e cerca de 25 milhões de pessoas expostas ao risco. Outro bloco foi organizado pelos países da América Central envolvendo Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua e Panamá. O principal vetor nestes países é o Rhodnius prolixus, como mostrado por Guhl e Vallejo e Ponce. No Brasil, a erradicação do T. infestans já foi praticamente alcançada e atenção crescente tem sido dedicada a outras espécies, que até pouco tempo atrás eram consideradas secundárias, tais como T. sordida, T. brasiliensis, T. pseudomaculata e, em algumas áreas, P. megistus.

Nelson mostrou que a resistência de barbeiros a inseticidas tem aparecido muito raramente e, na maioria dos casos, não tem afetado as atividades de controle, uma vez que as doses utilizadas no campo são várias vezes maiores que as doses-diagnóstico recomendadas para a identificação de insetos resistentes. Picollo sugere que na Bolívia, no entanto, a falha no tratamento com inseticidas piretróides (cujo mecanismo de ação tem como alvo os canais de sódio das membranas dos neurônios) para controlar T. infestans, seja devido ao elevado grau de resistência que alcançou, em alguns vilarejos, 640 vezes mais que os suscetíveis. Na tentativa de resolver o problema foi sugerida a troca por outro inseticida com mecanismo de ação diferente, isto é, por um carbamato que é um inibidor da colinesterase.

Apesar de não terem surgido, nos últimos anos, estudos intensivos de novos inseticidas que pudessem resultar em novas ferramentas de controle dos vetores da Doença de Chagas nos domicílios e peridomicílios infestados, também não se tem notícias de casos importantes de resistência aos inseticidas que vinham sendo recomendados anteriormente e que pudessem comprometer o seu uso. Desse modo o quadro apresentado até agora não sofreu grandes modificações que poderiam anular os esforços de pesquisas anteriores que indicavam mais notadamente vários piretróides sintéticos como inseticidas com eficiência no controle das espécies de triatomíneos mais presentes em infestações domiciliares e peridomiciliares nas principais áreas endêmicas do Brasil e do restante da América Latina. Os casos excepcionais e localizados de bolsões de resistência a piretróides poderiam ser contornados com o uso de alguns organofosforados ou carbamatos também já estudados.

A mudança importante ocorreu principalmente no perfil da doença. Atualmente predominam os casos crônicos que resultaram da infecção via vetor que aconteceu nas décadas passadas, como demonstra estudo realizado pela Secretaria de Vigilância em Saúde sobre a série histórica de dados da Doença de Chagas aguda no período de 2000 a 2013(*1). No último inquérito de âmbito nacional, que ocorreu de 2000 a 2008, considerando-se crianças da área rural, menores de cinco anos, a prevalência da infecção foi de 0,03%. No entanto, como para 0,02% dessas crianças havia concomitância de infecção materna, sugerindo transmissão vertical, restaram somente 0,01% dos casos de positividade exclusivamente na criança, indicando transmissão vetorial. Esses dados apontam, sem dúvida, para o sucesso das campanhas de controle da transmissão vetorial realizada por tantos anos no país e que teve como consequência a interrupção da transmissão por Triatoma infestans, conforme atestado pela Organização Panamericana de Saúde em 2006(*2). Outras espécies que também foram importantes na transmissão no território nacional, como  Panstrongylus megistus, Triatoma sórdida, T. brasiliensis, T. pseudomaculata, além de várias espécies de Rhodnius deixaram de ter papel relevante, apesar de sua presença continuar a ser detectada.

Em trabalho realizado pela Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo(*3)no período de 2010 a 2012, foram recebidas 3867 notificações de insetos, sendo 72% delas realmente triatomíneos(2785). O atendimento dos casos mostrou 746 domicílios infestados, encontrando-se mais de 15000 exemplares de triatomíneos, sendo 3,4% deles infectados com Trypanosoma cruzi. A espécie coletada foi predominantemente T. sordida, no peridomicílio. Nenhum morador foi encontrado infectado, o que aponta para a interrupção da transmissão vetorial no Estado.

No Brasil, entre 2007 e 2011(*1), foram coletados mais de 770.000 triatomíneos de 62 espécies. T. vitticeps, R. robustus e P. lutzi apresentaram as maiores taxas de infecção natural: 52%, 33,3% e 29,4% respectivamente. Raros casos de transmissão apontam o envolvimento de espécies de hábitos silvestres com altas taxas de infecção natural, ocorrendo até em municípios que eram considerados não endêmicos para a doença.

Por outro lado, casos que eram bastante incomuns de transmissão oral, tem sido detectados, indicando mudanças no padrão epidemiológico. Entre 2000 e 2013, 1570 casos agudos foram detectados no país, sendo 68,9% por transmissão via oral e somente 6,4% por via vetorial(*1). Desse total de casos agudos 91,1% ocorreram na região norte, principalmente no Pará(74,7%). Os surtos de transmissão via oral começaram a ser investigados seriamente em 2005 em Santa Catarina pela provável ingestão de caldo de cana contaminado com T. cruzi. A partir de então, até 2013, foram registrados 112 surtos no país, envolvendo 35 municípios da região amazônica, pela provável ingestão de alimentos contaminados, principalmente açaí, bacaba, jaci e caldo de cana. No Pará, em que foram registrados cerca de 75% dos casos brasileiros, mais de 50% dos casos agudos notificados de 2007 a 2013 apresentaram início dos sintomas entre agosto e novembro, período coincidente com a safra do açaí.

Na atualidade o reaparecimento da Doença de Chagas não depende mais do modelo clássico da transmissão por T. infestans, ou por outras espécies colonizando o intra ou o peridomicílio, em estreita relação com o homem. A vigilância entomológica continua sendo importante, associada às ações de educação em saúde, objetivando detectar oportunamente casos da doença aguda. É também importante uma ativa interface com a Vigilância Sanitária para adoção de medidas de redução e prevenção de novos casos de transmissão via oral. Os registros de dados também devem ser melhorados já que 23% dos casos agudos registrados entre 2000 e 2013 tiveram a forma de transmissão ignorada, como pode ser visto nos registros da Secretaria de Vigilância em Saúde(*1).

Novas linhas de pesquisa são recomendadas, tais como as que procuram determinar os fatores que levam a uma população silvestre de triatomíneos a invadir e colonizar o ambiente domiciliar ou peridomiciliar ou a não se estabelecer, deixando de formar colônias importantes. A importância disso é que a eliminação de populações domésticas continua sendo possível através da aplicação de inseticidas residuais, enquanto que no segundo caso o papel do controle de vetores é limitado, pois sempre serão esperadas tentativas de invasão(*4).

A não ser que voltem a ocorrer situações pontuais em que triatomíneos voltem a ocupar com eficiência domicílios e peridomicílios, não haverá razão para o tratamento com inseticidas do modo como foram tradicionalmente utilizados. Portanto a vigilância entomológica continua sendo importante para detectar os casos em que vale a pena intervir.

Bibliografia

  1. Boletim Epidemiológico, Doença de Chagas Aguda 2000-2013. Secret. Vigilância Saúde-MS. Vol. 46(21):1-9, 2015.
  2. Ferreira, I.L.M., Silva, T.P.T., Eliminação da transmissão da doença de Chagas pelo Triatoma infestans no Brasil: um fato histórico. Carta ao editor. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., 39(5), set-out 2006.
  3. Silva, R.A., Barbosa, G.L.&Rodrigues, V.L.C.C. Vigilância epidemiológica da doença de Chagas no estado de São Paulo no período de 2010 a 2012. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 23(2):259-267, abr-jun 2014.
  4. Research Priorities for Chagas Disease, Human African Trypanosomiasis and Leishmaniasis. Technical Report Series 975, 99p, 2012.

 

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