» Educação e Promoção da Saúde
Danielle Grynszpan
Laboratório de Biologia das Interações, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz
E-mail: danielle@ioc.fiocruz.br
A doença de Chagas é uma enfermidade negligenciada, com aspectos ligados à morbimortalidade que representam um desafio: perpassar o tratamento médico- curativo, antiparasitário, para abordar a melhoria da qualidade de vida. Em 2016, por ocasião da XXXI Reunião Anual de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas, aconteceu também, paralelamente, o 1º Encontro Brasileiro de Movimentos Sociais de Luta Contra Doenças Negligenciadas voltado para a temática “Desafios, avanços, perspectivas e articulações dos movimentos sociais na defesa da vida, do SUS e da luta contra as doenças negligenciadas”. Esta iniciativa significou um avanço, no sentido da participação ativa dos portadores da doença, pelo impulso à busca de respostas para as dúvidas que acometem seu cotidiano bem como por soluções possíveis para minorar seus problemas.
Porém o que se quer ressaltar, aqui, é a relevância de se mudar o paradigma: de uma visão restrita à postura curativa e ao controle da transmissão, para um patamar mais elevado, de “enfrentamento” da doença de Chagas. Assim, a educação em saúde enfatiza seu papel-chave como um importante determinante social da saúde, sem o qual se torna quase impossível questionar as condições de vida que implicam em enfermidades infecto-parasitárias. Por meio de estratégias de educação em saúde, com base em pesquisa, pode-se favorecer a percepção de questões relacionadas à origem da problemática local das endemias. Por exemplo, a introdução das plantações de café em larga escala em São Paulo, inicialmente no Vale do Paraíba, contribuiu para a constituição de uma zona endêmica da doença de Chagas – relacionada ao desmatamento e à ocupação desordenada em habitações precárias.
Promover a saúde significa perceber as implicações psicossociais no processo saúde-doença e, por outro lado, compreender a interferência das más condições socioambientais no deslocamento do processo em direção à doença. Esta, assim, pode advir da maneira como é ocupado e explorado o espaço natural. A educação em saúde, dessa forma, é um componente da promoção da saúde e não deve ser entendida como informação, que se transmite unidirecionalmente através de palestras e panfletos de campanhas. Por sua vez, a promoção da saúde pressupõe um processo que demanda trocas culturais das quais participam todos os atores sociais: cientistas, profissionais da saúde e da educação, trabalhadores rurais, famílias e comunidades. Assim, com participação social, soluções sustentáveis poderão ser construídas coletivamente e o processo, dinâmico, se reverterá no sentido da saúde de forma gradual, porém duradoura.