Fonte: Sociedade Brasileira de Medicina Tropical – SBMT
Nova diretriz pode ajudar a retardar a progressão da doença, diminuir a chance de transmissão congênita, e qualificar de forma geral a atenção prestada às pessoas atingidas pela doença
Após mais de uma década de expectativa será lançado em Maceió o Novo Consenso Brasileiro em Doença de Chagas durante o 52º Congresso Brasileiro de Medicina Tropical que acontece na capital de Alagoas de 21 a 24 de agosto. A atividade de lançamento ocorrerá no dia 22 de agosto pela manhã, em meio à abertura da XXXI Reunião Anual de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas & XIX Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses, ChagasLeish 2016 – Compromissos da Ciência, Tecnologia e Inovação com o Sistema Único de Saúde.
O documento reúne dados dos mais recentes estudos e a experiência terapêutica da doença de Chagas relatada em diversos países, não apenas da América Latina, que reforçam as evidências de que o tratamento é capaz de diminuir a chance de transmissão congênita quando mulheres infectadas são tratadas previamente à gestação e atenuar ou retardar o avanço da doença nos casos classificados como indeterminados e sem cardiopatia avançada (consequência comum em cerca de 30% dos casos).
“O Brasil tem uma grande responsabilidade em trazer evidências sobre a dinâmica de transmissão, a atenção à saúde e o controle desta doença em áreas endêmicas e não-endêmicas em todo o mundo. Esperamos com este documento contribuir para a mudança da atual situação, assim como para a formulação e adoção de políticas mais adequadas para o controle da doença no Brasil”, alerta o médico Alberto Novaes, professor da Universidade Federal do Ceará e um dos autores do consenso.
O Consenso Brasileiro em Doença de Chagas 2015 é fruto da colaboração de mais 40 de especialistas brasileiros, a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) e o Ministério da Saúde e levou cerca de dois anos para ser publicada. Este esforço inclui a mudança dos critérios de inclusão e exclusão no protocolo de tratamento etiológico da doença de Chagas (ou seja, da doença em si e não apenas de suas consequências).
“O tratamento com benznidazol é eficaz e assegurar o acesso aos pacientes diagnosticados a este medicamento possibilita reverter o dramático quadro atual de apenas 1% de pacientes tratados. Este medicamento, no entanto, existe há décadas e ainda é associado a efeitos adversos, portanto é preciso continuar investigando em busca de novas e melhores ferramentas de saúde”, adverte a Dra. Carolina Batista, diretora médica da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), organização desenvolveu em parceria uma formulação pediátrica do tratamento – além modelos sustentáveis de acesso e estudos clínicos que buscam novos regimes de tratamento.
Em 2006, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a Certificação Internacional de Eliminação da Transmissão da Doença de Chagas por Triatoma infestans. A despeito desta importante conquista, os diferentes cenários ecoepidemiológicos no país reforçam a necessidade de sustentar as ações de vigilância entomológica, de reservatórios e de casos humanos. Nas últimas décadas também se observou que a doença antes essencialmente rural e associada exclusivamente a populações mais pobres urbanizou-se e cruzou as fronteiras sociais. Os dados do consenso reforçam a necessidade de se incluírem os casos da doença na fase crônica como evento para a vigilância epidemiológica no país.
Atualmente, dados oficiais da Organização Mundial da Saúde revelam cerca de 1,2 milhão de pessoas com a doença de Chagas no Brasil. Estimativas mais atuais apresentadas no consenso revelam que em 2015, por exemplo, tomando-se como base a estimativa de população de 204.450.649 habitantes, havia entre 1.426.994 a 3.357.633 brasileiros infectados por Trypanosoma cruzi (o parasita que causa da doença): sendo 142.699 a 335.763 pessoas tendo potencialmente desenvolvido complicações do aparelho digestiva, e 428.098 a 1.007.290 com complicações cardíacas. A população estimada com infecção por T. cruzi na forma indeterminada variava de 856.197 a 2.014.580 pessoas.
Em termos econômicos, o país ainda apresenta a perda média anual mais significativa de produtividade econômica na América Latina, de 1,7 bilhão de dólares, seguido pela Argentina e o México. No Mundo, a doença de Chagas causa perdas de cerca de 7 bilhões de dólares anuais.[1]
Para mais informações, acesse:
- Chagasleish 2016: http://goo.gl/Ve96um
- 52º Congresso Brasileiro de Medicina Tropical: http://www.sbmt.org.br/medtrop2016/
- Consenso Brasileiro em Doença de Chagas 2015: http://goo.gl/FzkulF
- Editorial: A contribuição do Consenso brasileiro em doença de Chagas no contexto epidemiológico nacional
- II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas, 2015
- Artigo de Opinião: Mudanças no paradigma da conduta clínica e terapêutica da doença de Chagas: avanços e perspectivas na busca da integralidade da saúde