MAIS DE MEIO SÉCULO NA LUTA PELA SAÚDE: JOSÉ R. COURA UM DOS TROPICALISTAS MAIS IMPORTANTES DO BRASIL

 

Nesses anos de convivência com Professor Coura, destaco traços que definem, de forma clara, sua personalidade firme e conduta frente ao seu percurso de vida. Que começa a ser definida no interior da Paraíba, na cidade de Taperuá, onde nasceu, e que se fortalece quando finca raízes na cidade do Rio de Janeiro, cidade que ele sempre diz: “uma das mais lindas de todas as que já conheci”, e que hoje vê tão delapidada.

O Dr. José Rodrigues Coura é um homem que gosta, mesmo, não de ser chamado de cientista, editor, acadêmico, diretor, “membro de…”, mas simplesmente, e sobretudo, de Professor. Como ele mesmo diz, o mais importante legado da vida dele, dificilmente reconhecido nos CVs, publicações, mundo acadêmico, títulos e condecorações recebidas, é o de ter sido professor de tantas e tantos discípulos.

Primeiro traço, o respeito ao pensamento ideológico de cada um de nós. Respeito à liberdade de escolha dos caminhos daqueles que estão ou estiveram ao seu lado. A coerência e a determinação na carreira, uma trajetória comprometida e competente de professor que colaborou e a consolidou num “Modelo de Escola de Medicina”, onde o profissional de saúde tem por obrigação sair dos grandes centros para conhecer as realidades regionais desse país continental.

E finalmente a sua inegável paixão pela vida, a coragem, o prazer de contar histórias, o seu reconhecimento constante dos que participaram da sua formação acadêmica e pessoal, e acima de tudo o seu comprometimento institucional com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, na primeira fase da sua carreira, e com a Fundação Oswaldo Cruz, especificamente em grande parte com o Instituto Oswaldo Cruz, na segunda fase e até hoje.

 

E uma questão de grande relevância nos dias de hoje é que ele é um professor de valores raros. Permitam-me citar alguns:

 

diversidade. O Prof. Coura acolheu as pessoas mais diversas que a gente possa imaginar como seus alunos (de diferente nacionalidade, condição econômica, religião, ideologia política…). Curiosidade constante por aquilo que é diferente, pela diversidade que é fonte de questionamento, aprendizado, encantamento pela vida…

 

inteligência humana, como valor admirado, exercitado e requisitado de seus estudantes. Como ele mesmo gosta dizer: “Não subestime nunca a inteligência do outro…”. E ai, sobressaíram a capacidade de adaptação a novas situações, de inovação constante, de antecipação, de provocação e, definitivamente, de qualidade final.

 

Os direitos humanos e a intransigência perante aqueles que pisam os direitos de alguém, não importa quem, seja qual for a classe social, situação econômica… Frases como: “E se fosse a sua mãe faria igual?”, marcaram sistematicamente alunos e interpelados…

 

capacidade de trabalho, e sua fruição, que até hoje se faz presente no cotidiano dele. Testemunho explicitado por aqueles que tentam – mas nem sempre conseguem – acompanhar o ritmo dele…

 

sabedoria de vida, como alicerce. Pé no chão, prático e pragmático, de bem com a vida e com amor incondicional pelo lugar onde trabalha, com senso de humor e capacidade irônica de rir dele mesmo, nas situações difíceis. Como ele tem dito: “A gente ganha pouco, mas se diverte…”. Com grande capacidade para discernir, para saber que não é uma boa ideia “pedir de um pé de mamão uma melancia…”.

 

humanidade. Ele é um professor de Medicina Tropical e da vida. E isso tem se feito evidente, de forma especial, nos momentos de adversidade, aflição, crise, conflito, tristeza… de cada uma e um de seus alunos; marcando-os, assim, para o resto de suas vidas…

 

responsabilidade com os compromissos assumidos. “Ser humano é cumprir com os nossos compromissos”, como brasileiros e como cidadãos do mundo. E assim não estaremos mais do que cumprindo o nosso dever.

 

E a liberdade. Respeito pelo diverso e defesa da liberdade para ser diverso. Repito: respeito pelo diverso; e defesa da liberdade para ser diverso. Entender que o que fundamenta a riqueza e grandeza de uma pessoa ou equipe qualquer é, definitivamente, a liberdade para se manifestar desde a sua diversidade.

 

Em sua homenagem, que não poderia deixar de ser diferente, palavras de Ariano Suassuna, seu colega de escola, no interior de Taperuá: “Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: O riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”

Muitíssimo obrigado, Professor, pelo imenso privilégio de seus ensinamentos raros…!

Angela Cristina Verissimo Junqueira /Laboratório de Doenças Parasitárias, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz e Pedro Albajar Viñas / Programa de controle da doença de Chagas, Organização Mundial da Saúde

 

 

“Professor Coura por sua profunda dedicação ao Ensino das Doenças  Infecciosas e Parasitárias é o responsável pela escolha da especialidade por muitos alunos que mantêm suas atividades em áreas endêmicas, à semelhança do que continuam a aprender com o Mestre. Agradecemos a Deus porque somos seus amigos e continuamos a receber seus conhecimentos.”

Dos Amigos, Alunos e Admiradores do Professor Coura

“Professor Coura , um cientista à serviço da vida”.

José Borges-Pereira (Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz)

 

“Muito difícil colocar em poucas palavras todos os sentimentos que o Professor Coura pode gerar em mim. Conheço-o há mais de 20 anos e sempre tem sido essa figura ilustre e deliciosa, uma amalgama entre um mestre formador de cientistas, com todo o rigor possível e ao mesmo tempo sendo um pai e amigo generoso, piadista e contador de histórias. Um homem sábio. O professor Coura nunca se furtou a tomar posições e isso é uma grande virtude, porém sempre nos deu muita liberdade para desenvolver nossos estudos. Por outro lado, tê-lo como companheiro de trabalho de campo é um privilégio impar outorgado a poucos e eu tive a grande sorte de contar com esse mestre na minha vida, navegando pelos rios amazônicos e pelo percurso da vida acadêmica, nem sempre caminhos calmos, nem sempre tranquilos. Agradeço sua imensa generosidade, querido professor Coura!”

Martha Cecilia Suárez Mutis (Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz)

 

“Com estas palavras seus discípulos querem expressar sentimentos de profunda gratidão e respeito pelo professor e amigo que formou tantas gerações de novos cientistas. Incansável incentivador de jovens aprendizes, com maestria impar ministrava seus ensinamentos, até mesmo nas horas de lazer,  quando compartilhava conosco a jovialidade que sempre marcou sua existência. Se hoje fazemos parte de uma seleta  parcela da população responsável pela geração de novos conhecimentos, é porque um dia tivemos o privilégio de conhecer um mestre que acolhia seus discípulos, orientava e os devolvia  à sociedade, prontos para dar continuidade à nobre missão de ensinar. Aprendemos mais que tudo, com o professor Coura, a valorizar princípios morais, pilares sólidos que sustentam a construção uma sociedade mais justa.  Agradecendo por tudo que nos ensinou, orgulhosamente nos declaramos seus discípulos, para sempre!”

Aloísio Falqueto (Universidade Federal do Espírito Santo)

 

“Ensinar é a face mais bonita da generosidade, e generosidade é o que caracteriza ao Prof. José Rodrigues Coura… Ele fez possível que muitos sonhadores latino-americanos tivéssemos oportunidade no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC-Fiocruz permitindo a formação de um grande numero de pesquisadores hoje espalhados pelo mundo perpetuando suas contribuições por uma melhor saúde pública, controle das doenças tropicais e consequente diminuição dos efeitos das desigualdades.”

Flor Ernestina Martinez-Espinosa (Instituto Leônidas e Maria Deane, Fiocruz/Amazônia)

 

“Ao pensar no Professor Coura, lembro da expressão no rosto e das palavras de minha mãe ao chegar em casa após a cerimônia de formatura de nossa turma de 1982 do Curso Técnico de Pesquisa em Biologia Parasitária do IOC. Ela me disse que ficou impressionada ao perceber as lágrimas que corriam dos olhos daquele moço que estava lá na frente, ele ficava disfarçando o choro, mas eu vi. Fiquei em dúvida sobre quem seria, pensei que ela falava do Professor Henry Willcox, às vezes brincalhão e próximo de nós; nunca o Prof. Coura porque, para quem não o conhece ou pensa que o conhece, dá a impressão de ser uma pessoa dura e distante. Minha mãe continuou: André, fiquei impressionada até agora, aquele moço tem um bom coração! Querido Professor Coura, minha mãe tinha razão! Por isso, creio que tão ou mais significativa do que as contribuições científicas de sua trajetória profissional, é a indelével marca do ser humano especial que o senhor é e que fica gravada em todos aqueles que são privilegiados em conhecê-lo. Um grande abraço, com muita consideração e estima!”

André de Figueiredo Barbosa (Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz)

 

“Pessoa iluminada! Grande mestre! Dedicou grande parte de sua vida ao ensino da medicina. Criou diferentes cursos de pós-graduação, orientando gerações de mestres e doutores. Há mais de 20 anos tenho tido o prazer de conviver com ele no Instituto Oswaldo Cruz, admirá-lo e tê-lo como uma das minhas referências profissionais e pessoais.”
Carlos José de Carvalho Moreira (Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz)

 

“O Prof José Rodrigues Coura pertence à galeria de homens dedicados à sua causa. Pesquisador, professor, orientador, apoiador, desbravador, mestre e sustentáculo de instituições e de vidas que se dedicaram ao conhecimento e à solução de doenças infecciosas e parasitárias que assolam o Brasil. Sinto-me honrado e orgulhoso em ser um de seus discípulos.”

Walter Tavares (Centro Universitário Serra dos Órgãos, Universidade Severino Sombra e Centro Universitário de Volta Redonda),

 

“Um toque de interior nordestino, Um olhar de ousadia e curiosidade, Um tanto de disciplina no estudo, A garra da realização e a liberdade, fizeram esse tropicalista brasileiro que, ao sair do interior com a coragem da sua juventude para tentar a vida na cidade grande, tornou-se um exemplo de como construir sua própria oportunidade, vindo a dar oportunidade a demais. Com o pé no Brasil, José Rodrigues Coura tornou-se um exemplo de brasileiro ao trocar o jaleco branco pela roupa de campo, voltando sua medicina para a busca in locu, geração e oferecimento de conhecimento sobre o negligenciado. Formando-se, informando e formando outros, desenhou um caminho pelo núcleo do país; um percurso tropicalista sempre aberto aos passos de quem souber aprender com ele.

Simone Ladeia-Andrade (Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz)

 

“Professor Coura é uma pessoa que se distingue por seu brilhantismo, e por suas inúmeras qualidades dignas de louvor. No Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz tenho tido o privilégio de compartilhar diversos momentos com o professor. Uma pessoa inspiradora pela sua sabedoria, coerência e dignidade. Gostaria de dizer para nosso querido professor que serei eternamente grato pela confiança, carinho e respeito com que fui recebido pelo senhor e sua maravilhosa equipe no laboratório, e que me sinto muito feliz a cada nova jornada de trabalho nesse ambiente verdadeiramente científico e carregado de humanidade.”

Paulo Peiter (Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz).

 

“Conheci pessoalmente o Prof. Coura na década de 1980 quando iniciei o Mestrado em Doenças Infecciosas e Parasitárias na UFRJ. O prof. Coura era o Coordenador do curso e logo me impressionou pela pontualidade, pela seriedade e pelo vasto conhecimento que demonstrava não só na área clínica como epidemiológica. A experiência de campo que nos trouxe norteou nossa vida profissional até os dias atuais.”

Dirce Bonfim de Lima (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

 

“Angela Junqueira me liga e pede para escrever um parágrafo sobre o professor Coura. Estou no México de férias de passo em Taxco Guerrero olhando do alto a espetacular cidade da prata. Evoco muitas vivencias com o Professor Jose Rodrigues Coura, bebo uma tequila em nome das cachaças e conversas com o Mestre. Lembro daquelas reuniões perguntando das origens e destinos das rotas dos tropicalistas. Agora que pouco importa o que somos e nos move mais a saber o que fazemos, para quem, e para onde estamos indo neste mundo de apocalipse cotidiano. Professor que é tropicalista? Pergunta feita ao mestre em de 1986. Ele falou (palavras mais, palavras menos): O tropicalista é um sujeito que tem visão abrangente da ecologia, geografia médica, epidemiologia e clínica médica das doenças infecciosas e parasitárias. Deve ter conhecimentos básicos de parasitologia, microbiologia, entomologia e imunologia. É um indivíduo treinado para ver com disposição para enfrentar o trabalho de campo, viver com simplicidade e assumir os retos com grande sensibilidade social e humanismo. Para o contexto atual o tropicalista deveria incluir o que foi indicado pelo Professor Coura e incorporar na sua formação profissional conhecimento sobre os processos históricos da determinação social da saúde, uma ampla visão da saúde global, das inequidades socioambientais, de gênero e transitar na evolução da Medicina Tropical a Saúde nos Trópicos. Enfrentar o cenário global contemporâneo precisa de uma visão ampla e muito comprometida para melhorar a saúde nos trópicos. Coura foi e continua a ser uma grande inspiração de vida.”

Hugo Marcelo Aguilar Velasco (Universidad Central del Ecuador).

 

 

“Subindo o Rio Negro para divulgar a Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente para os estudantes da Educação Básica… Professor, mestre querido, nossa gratidão e admiração sempre!”

Cristina Araripe e Rita Bacuri (Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, Fiocruz).